![]() >no banco de La Guaira, na Venezuela. |
>Quando trabalhei como tripulante de pescaria de fly na Costa Rica, no começo dos anos 90, usávamos teasers sem anzóis para atrair agulhões-do-pacífico atrás do barco para dentro do raio de alcance de um pescador de arremesso com fly. Trazíamos os peixes direto para o painel de popa, enlouquecidos como cobras, enquanto tentavam repetidamente pegar o teaser e vê-lo escapulir de suas bocas. Eles cruzavam à esquerda e à direita da esteira na água, a poucos metros do barco, e iluminavam-se como letreiros de neon, antes de o teaser ser tirado da água e substituído por um fly com anzol.
>A maior parte das fotografias desses peixes são tiradas depois da captura. Mas, para mim, a emoção acaba quando a linha é puxada, então, ao longo de várias décadas, passei de capturar muitas espécies de peixes esportivos, usando equipamentos convencionais e fly, a fotografar todas as cinco espécies de marlim e as duas espécies de agulhões — sem anzóis e nadando livremente — em vários destinos ao redor do mundo.
>Esses andarilhos pelágicos dos oceanos viajam milhares de milhas para desova e alimentação, movendo-se através de correntes interoceânicas gigantescas como se fossem estradas. Os peixes estão ali um dia e desaparecem no dia seguinte, deixando muitas zonas de indefinição em relação a tempos e locais principais — não há garantias. Em uma viagem recente para fotografar o marlim-azul durante o que deveria ser o ponto alto da temporada do marlim-azul na República Dominicana, pegamos apenas dois peixes em cinco dias na água — longe dos cinco a 10 azuis esperados por dia.
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>Os tripulantes dirigem a cabine. Uma vez que os peixes se encontram no spread (a área entre as linhas de pesca estendidas), é tarefa dos tripulantes mantê-los interessados no teaser enquanto os conduzem para cima da minha cabeça e, às vezes, a poucas polegadas da câmera. O proprietário é provavelmente o mais importante. Ele tem um investimento tremendo em movimentar o barco procurando pelas melhores pescarias. Desistir de uma semana de toda aquela ação para possibilitar que um fotógrafo embarque e não puxe nenhum anzol é certamente pedir muito, e raros são os indivíduos que concordam em fazê-lo. Quando concordam com o arranjo, é porque acreditam no que estamos fazendo. Digo "nós" porque capturar essas imagens únicas é um trabalho de equipe.
>Todas as técnicas que desenvolvemos para provocar (que é o sentido literal de tease, em inglês) os peixes evoluíram por meio da colaboração, e poucos dos meus colaboradores são tímidos ao me dizerem que acham que eu estraguei a foto. Recentemente, um tripulante com o qual tenho trabalhado por vários anos foi rápido ao observar, quando perdi um peixe: "Cara, você está ficando velho e lento!" Cada tripulação com a qual trabalhei refinou os menores detalhes como se a foto fosse dela.
>O resto é trabalho meu. Sou o jogador principal da partida, saindo da popa para o spread das iscas quando um peixe de bico destrói um teaser repetidamente, depois entrando embaixo da linha do teaser correto e aparecendo embaixo do peixe no momento perfeito em que ele o vira e abocanha a isca sem anzol. De qualquer forma, o plano é esse.
>Você deseja congelar a ação e tem uma velocidade de obturador alta o suficiente para conseguir trabalhar a 10 fps ou mais. Descobri que a velocidade mágica do obturador para um peixe na pescaria é de aproximadamente 1/800 de segundo. Ela supera a velocidade máxima de sincronia com o flash, restrita pelo obturador, de cerca de 1/250 fora d'água. Usar flashes é impraticável com uma velocidade tão alta. Testamos a sincronia de alta velocidade e até mesmo o flash de ultra curta duração para substituir as exposições ambientes de que dependíamos, mas uma exposição total à luz do sol funciona em muitas condições diferentes; as restrições do flash e outras complicam uma situação já difícil. No entanto, usamos o flash em outros tipos de encontros com peixes de bico, como as grandes formações de cardumes conhecidas como bait balls, quando a ação é mais consistente e previsível.
![]() >as águas do Banco Thetis, no México. |
>A exposição manual da imagem é obrigatória. Quando as águas brancas de um golpe explosivo atinge o fotômetro, qualquer um dos módulos de prioridade irá desligar a exposição e proteger a massa de reflexos repentinos que acabaram de bombardear o quadro, então você acaba obtendo a silhueta de um peixe nas cavitações do buraco na superfície que os peixes acabaram de fazer. Isso é algo que você tem de trabalhar. Pule na água, fotografe uma superfície calma horizontalmente e, então, faça um grande borrifo na frente da câmera. Fotografe com a luz, contra a luz e em ângulos acima e abaixo, e então compare as exposições. A ideia é desenvolver uma escala de luzes na sua mente para esses tipos de condições, treinando o seu cérebro para visualizar as exposições nessa faixa sem o fotômetro.
>Aqui estão algumas orientações: Em condições de águas claras, dia ensolarado e brilhante na superfície, com uma velocidade do obturador de 1/800 de segundo, eu jogo com uma abertura de f/8 ou f/5.6 com um ISO de 400 a 640, equilibrando as configurações de ISO e abertura para tentar matizar os resultados. Configuro meu balanço do branco (white balance, WB) previamente, o que não é importante quando fotografando em formato cru (Raw), mas quero que cada imagem da sequência de disparos seja feita com o mesmo WB, para que eu possa processar em lotes a gradação. Deixar o balanço do branco no automático poderia levar a um arco-íris de resultados. É um caos quando você cai na água, então configure previamente o WB e esteja pronto para acionar o obturador.
>Eu seleciono o foco manual para 0,6 m a 1 m (2 a 3 pés) do dome e checo colocando minha longa nadadeira de mergulho livre para fora. Preparo o equipamento na água, então sei que, a partir do momento em que os peixes aparecem na esteira, posso estar pronto para cair na água em cerca de 15 segundos. A câmera está sempre ligada, mas em stand-by. Usar um lustra-móveis no dome de cristal impede que as bolhas grudem na porta, previne a incrustação de cálcio causada pela água fresca e transporta a água delicadamente para fotos com efeito aquário (certifique-se de que o lustra-móveis é seguro para uso no material de superfície do seu dome). Mesmo com o lustra-móveis, você precisará limpar a porta com as mãos quando entrar na água.
>Estamos apenas começando a filmar em alta velocidades nossas interações com os peixes. Para isso, estamos usando uma filmadora Sony NEX-FS700 conectada a um gravador Convergent Design Odyssey7Q com duas unidades SSD de 512 GB configuradas em formato RAID (redundant array of independent disks, ou seja, matriz redundante de discos independentes, em tradução livre). A 240 fps raw (isto é, fotografando 240 imagens individuais raw de 35 MB a cada segundo), gravamos mais de um terabyte de informações a cada 14 minutos. A câmera fica em uma caixa estanque Amphibico, mas o verdadeiro cérebro, o gravador Odyssey7Q, fica em uma caixa estanque Subal S7Q.
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>Tivemos vários episódios potencialmente perigosos com cardumes de tubarões excitados pela atividade em mar aberto — criar uma agitação no meio do nada tende a convidar galhas-brancas, sedas e outros tubarões pelágicos, mesmo que não haja peixes em anzóis. A situação mais perigosa, provavelmente, é trabalhar com as partes do motor em funcionamento em mares agitados. Não há plataformas nem escadas em um barco de pesca esportiva. Tentar nadar através da porta dos marlins no painel de popa pode ficar complicado quando propulsores e lemes do equipamento do motor se levantam na água bem na sua frente e tentam sugá-lo para baixo.
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>Para fotografar uma urabana-focinho-de-rato de perto e sem anzol, começamos com um arnês personalizado. Passamos o conector do encaixe pelo anteparo da caixa estanque Nauticam, depois por um "snorkel" criado com braços de iluminação leves e dentro de uma pequena caixa estanque de plástico acrílico (uma velha caixa estanque para flash da Ikelite) que continha um transmissor PocketWizard. A ideia era fazer iscas na areia plana com caranguejos que capturamos, disfarçar a caixa estanque e colocá-la perto da isca em 40 cm (16 polegadas) com o receptor de rádio para fora, no ar. Enfiei partes de fio camuflado em algumas meias-calças para fazer uma capa para a câmera, disfarçando-a como uma pedra coberta de grama balançando ao sabor da corrente.
>Meu guia e eu esperamos pelo que pareceram horas até que os peixes entraram nas águas rasas, passaram em volta da caixa estanque e chegaram à isca em segundos. Assim que acionei o obturador, eles desapareceram. Foi assim todos os dias daquela semana. Os peixes me deixaram chegar cada vez mais perto, até que pude me deitar, parado, atrás da câmera, operando o obturador com meu dedo em vez de usar o acionador remoto sem fio. Eles giravam em volta da área plana e, de repente, mergulhavam como dardos na areia em volta da câmera à caça da isca. Eles começaram a associar a câmera e o clique do obturador com comida, presenteando-nos com fotos claras.
>Não importa que peixe esportivo você esteja fotografando, aprenda tudo o que pode sobre a espécie. Converse com cientistas, comandantes de barco e guias de pesca. Assista a reportagens sobre pesca, e aprenda a se equipar dentro e fora da água. Não use simplesmente o equipamento que todo mundo usa; pense em modos de transformar fotos impossíveis em realidade. O mais importante, visualize a fotografia que você quer. Passe pelos truques e ângulos mentalmente, gravando-os na memória. A fotografia bem-sucedida desse tipo de peixe é o resultado de pensamento criativo, preparação, visualização e trabalho de equipe.
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>© Alert Diver — 3º Trimestre 2015